segunda-feira, 7 de março de 2011

À Descoberta de Marzagão (1.ªParte)

No primeiro dia de Outubro teve lugar a minha primeira visita a Marzagão, à qual se seguiram mais algumas ao longo do mês. Objectivo foi sempre o mesmo: descobrir os recantos e encantos de aldeia que só de pronunciar o nome já nos transporta para mundos imaginários de mouros e histórias misteriosas.
Os terrenos da freguesia começam quase às portas da vila de Carrazeda de Ansiães, pois o lugar de Luzelos pertence-lhe, e estendem-se ao longo da ribeira da Ferradosa quase até ao Douro. A amplitude topográfica permite a esta freguesia rural aptidão para algumas produções agrícolas de relevo. Na parte mais alta predominam os pomares de macieiras, uma das maiores riquezas do concelho; na ribeira colhe-se o vinho e o azeite. Durante todo o mês de Novembro sentiram-se nas ruas da aldeia o cheiro a mosto e o aroma a maçãs, que proporcionam trabalho na aldeia.

Um passeio a Marzagão devia começar, como é óbvio, em Marzagão. Mas não foi isso que eu fiz. A minha primeira paragem foi precisamente no Castelo de Ansiães, na Lavandeira. Além de se poder apreciar uma imensa paisagem que inclui quase toda a área de freguesia, há uma forte ligação histórica ente o castelo de Ansiães e Marzagão. O esplendor de Marzagão deve ter acontecido precisamente com o declínio da vila de Ansiães e com a mudança de alguns serviços para a aldeia, nomeadamente religiosos.
Do alto do castelo, passeando o olhar da esquerda para a direita percorre-se toda a aldeia, seguindo o traçado da sua rua principal, a rua de São João Baptista. Mesmo à distância, é possível distinguir os núcleos de casas mais antigas, o campanário da igreja, o cemitério e algumas casas mais recentes nos bairros mais periféricos. Nos montes envolventes há muito verde. Os sobreiros misturam-se com os castanheiros e os pinheiros. Também se distingue perfeitamente o alinhamento dos pomares e o verde característico das oliveiras. Entre o castelo e a aldeia, a Quinta da Aveleira, numa extensa área, permite adivinhar grandes quantidades de maçãs douradas.

Em direcção ao Douro não vale a pena olhar, pelo menos nos próximos tempos. O extenso vale foi completamente devorado pelas chamas no Verão passado e tem um aspecto desolador.
A caminho da aldeia, talvez seja interessante lançar um olhar à igreja de S. João Baptista, extra muros. S. João Baptista é precisamente o padroeiro de Marzagão.

Marzagão tem uma bonita entrada, ao longo da estrada M632-1. Depois do Bairro da Carreira Branca chega-se ao Largo da Igreja, ou Fundo do Povo, como é conhecido. A igreja Matriz, elegante, bonita, domina o largo e a nossa atenção. Esta igreja é a ponte entre Marzagão e a antiga vila de Ansiães, uma vez que para aqui foi transladada no ano de 1575. Reformulou-se em 1765 e as casas laterais, há muito tempo em obras de recuperação, em 1756. É quase obrigatório dar uma volta no adro da igreja, agora muito mais vistosa depois de cortados dois enormes ciprestes que no passado estiveram à sua frente.
Em volta da igreja há catorze grandes cruzeiros em granito. Os pináculos, no telhado, são elegantes, bonitos, decorados com motivos florais. No frontispício destaca-se uma bela janela e, por baixo dela uma cruz, a da Ordem de Cristo. Marzagão foi da reitoria do padroado real e cabido da comenda de S. João Baptista, da Ordem de Cristo.

Com um pouco de sorte, talvez se possa entrar no interior da igreja. É um monumento digno de veneração e admiração. Todo o tecto está coberto de painéis representando santos, santas e cenas da vida de Cristo (perto de 150 quadros). O altar-mor em talha dourada é muito bonito, tal como os quatro altares laterais. Em vários locais é possível encontrar pedaços da história. Numa lápide pode ler-se: “Esta igreja transladouse aqui da primitiva extra muros da vila de Anciaens no ano de 1575: e reformousse no ano de 1765: sendo reitor o Doutor Antonio de Souza Pinto da M.a Freg.a”.
Um dos dias grandes desta igreja acontece no primeiro Domingo de Maio, aquando das festas em honra de Nossa Senhora do Rosário. Além da missa solene com pregador convidado, realiza-se uma majestosa procissão, com bandeiras, estandartes e os andores de S. João Baptista e Nossa Senhora do Rosário, entre outros.

A paragem seguinte é noutro monumento de relevo da aldeia: a Ponte do Galego, também conhecida como Ponte Romana. Situada fora do povoado, junto à estrada que segue para Linhares, apresenta dois arcos de volta perfeita e um tabuleiro plano. Tudo em granito. Estabelecia a ligação entre a vila de Ansiães e Arnal, com ligações ao Douro. Na melhor das hipóteses, as fundações remontam à Idade Média.

No regresso podem ser apreciados: a antiga escola primária, há muito tempo encerrada; um nicho com S. João Baptista, onde se realiza uma pequena festa com cascata no dia de S. João, e um bonito cruzeiro (que ainda tem restos metálicos da existência do mealheiro). Tal como nas alminhas, nestes cruzeiros recolhiam-se esmolas com que se celebravam missas, para sufrágio das almas do purgatório.

Continua:
À Descoberta de Marzagão (2.ªParte)

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