domingo, 13 de março de 2011

Cenas do quotidiano (1)

Em Marzagão, hoje à tarde.
25-02-2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

À Descoberta de Marzagão (2.ªParte)

Continuação deÀ Descoberta de Marzagão (1.ªParte)
O melhor lugar para deixar o automóvel é o Largo da Igreja. O resto da aldeia deve ser explorado a pé. Tomando a Rua de S. João Baptista chega-se à capela de S. João. É uma construção sóbria, pequena, recuperada depois de muitos anos de abandono. Não tem qualquer altar, mas no tecto são visíveis alguns vestígios de pintura.
Depois de se passar na Fonte da Santinha (tem um painel de azulejo representando Nossa senhora de Fátima) e a Rua do Loureiro há uma capela com um pórtico de volta perfeita, em granito. É propriedade privada e poucos sabem o que está lá dentro.
Continuando na rua de S. João Baptista surge, à esquerda, mais um cruzeiro. Agora completamente lavado, já teve um aspecto bastante diferente. Estava decorado com a imagem de Cristo crucificado, tendo pintado à frente de uma das mãos um martelo; à frente da outra mão uma turquês; num dos lados da cruz estava pintada uma escada. Os restos da pintura desapareceram há mais de meio século, após uma limpeza.
É preciso percorrer a rua de S. João Baptista até ao final, ultrapassar as últimas casas em direcção ao Carrascal, para se encontrar a Fonte do Gricho. Completamente recuperada é, de novo, motivo de orgulho para todos os habitantes. Aqui alguns passaram momentos importantes das suas vidas, num tempo em que ir à fonte era uma das actividades mais interessantes, principalmente para as moças solteiras. Quando aparecia um rapaz com habilidade para o realejo, os pesados canecos de madeira ficavam esquecidos na borda da fonte e improvisava-se um baile, que durava até ao fim da tarde.
A fonte do Gricho é uma bonita fonte de mergulho, talhada em granito, embutida numa parede, a que se tem acesso do caminho descendo alguns degraus. Do lado direito está gravada uma data, que não se percebe completamente. Parece ser 1844A, mas não tenho a certeza.
De regresso à aldeia, foi a altura de me perder pelas ruas mais estreitas, becos e caminhos sem nome. Nome? Têm … como Rua da Portelinha, Rua do Cruzeiro, Rua das Poldras, Rua do Loureiro, Rua da Pereira, Rua da Escola, Rua da Fonte Nova, Largo do Terreiro, Cimo do Povo, Laja, etc. O problema é que não existem placas, e, mesmo os residentes, não sabem bem o nome da rua em que moram! Segundo consegui apurar, há muitos anos atrás as ruas tiveram placas com os nomes, mas foram retiradas! Se forem placas em chapa, esmaltadas, como a que está no início da rua S. João Baptista, acho que é de as repor, são muito bonitas.
Não resisti a subir ao Cimo do Povo. Deixei as casas para trás e subi ao alto de um rochedo de onde tinha uma nova perspectiva da aldeia. O núcleo mais antigo de casas está muito degradado. Há locais onde não chegam os automóveis e onde praticamente não mora ninguém. Também Marzagão sobre do mal geral, a desertificação. Os que restam procuram melhores condições, construindo à volta, em bairros novos, com mais espaço, com melhores acessos. Apesar da falta de pessoas, as condições são melhores do que alguma vez foram, com os estreitos caminhos calcetados e limpos.
Espreitando aqui e além, fui descobrindo curiosidades que me tinham passado despercebidas em visitas anteriores. Quando descia do Cimo do Povo encontrei outra fonte de mergulho, muito mais rústica e antiga do que a Fonte do Gricho. Pelo desgaste na soleira que lhe dá acesso, deve ter sido muito utilizada. Mesmo em frente da fonte, uma casa velha tem gravado na ombreira da porta as iniciais A. J. e o ano de 1760.
Há várias janelas e portas com estilo manuelino. Nada de muito elaborado, mas o suficiente para merecerem ser preservadas. Perto da rua da Pereira há duas coisas que também merecem ser referenciadas. Uma delas é o pórtico de uma casa, em granito, ricamente trabalhado. Infelizmente estava tapado por fitas para as moscas! A outra são dois ornamentos, chamados mísulas com representação de duas cabeças. Uma, dizem que representa Marzagão e a outra a sua esposa.
Ao longo de toda a aldeia há interessantes alpendres em madeira, pedras gravadas com desenhos e datas (dizem que algumas vieram do castelo), bem como alguns trabalhos em ferro forjado dignos serem fotografados.
Existe na aldeia um bonito café, mas que raramente está aberto. A taberna Trigo também já está encerrada, depois de ter servido durante dezasseis anos. A idade avançada e a falta de clientes, ditaram a morte do espaço, que pouco mudou desde então. E foi com um copo de vinho fino na taberna, aberta só para satisfazer a minha curiosidade, que terminei o meu périplo pela aldeia de Marzagão.
Ficou muita coisa por visitar: o castelo das Donas; uma necrópole; a Fonte Santa; os moinhos de água que se estendiam pela Ribeira de Linhares, etc. Ficou por fazer; um passeio pedestre entre Marzagão e o castelo; explorar o vale ao longo da ribeira da Ferradosa, quem sabe até uma caminhada entre Marzagão e Campelos. São muitas as razões para voltar a Marzagão em breve.

segunda-feira, 7 de março de 2011

À Descoberta de Marzagão (1.ªParte)

No primeiro dia de Outubro teve lugar a minha primeira visita a Marzagão, à qual se seguiram mais algumas ao longo do mês. Objectivo foi sempre o mesmo: descobrir os recantos e encantos de aldeia que só de pronunciar o nome já nos transporta para mundos imaginários de mouros e histórias misteriosas.
Os terrenos da freguesia começam quase às portas da vila de Carrazeda de Ansiães, pois o lugar de Luzelos pertence-lhe, e estendem-se ao longo da ribeira da Ferradosa quase até ao Douro. A amplitude topográfica permite a esta freguesia rural aptidão para algumas produções agrícolas de relevo. Na parte mais alta predominam os pomares de macieiras, uma das maiores riquezas do concelho; na ribeira colhe-se o vinho e o azeite. Durante todo o mês de Novembro sentiram-se nas ruas da aldeia o cheiro a mosto e o aroma a maçãs, que proporcionam trabalho na aldeia.

Um passeio a Marzagão devia começar, como é óbvio, em Marzagão. Mas não foi isso que eu fiz. A minha primeira paragem foi precisamente no Castelo de Ansiães, na Lavandeira. Além de se poder apreciar uma imensa paisagem que inclui quase toda a área de freguesia, há uma forte ligação histórica ente o castelo de Ansiães e Marzagão. O esplendor de Marzagão deve ter acontecido precisamente com o declínio da vila de Ansiães e com a mudança de alguns serviços para a aldeia, nomeadamente religiosos.
Do alto do castelo, passeando o olhar da esquerda para a direita percorre-se toda a aldeia, seguindo o traçado da sua rua principal, a rua de São João Baptista. Mesmo à distância, é possível distinguir os núcleos de casas mais antigas, o campanário da igreja, o cemitério e algumas casas mais recentes nos bairros mais periféricos. Nos montes envolventes há muito verde. Os sobreiros misturam-se com os castanheiros e os pinheiros. Também se distingue perfeitamente o alinhamento dos pomares e o verde característico das oliveiras. Entre o castelo e a aldeia, a Quinta da Aveleira, numa extensa área, permite adivinhar grandes quantidades de maçãs douradas.

Em direcção ao Douro não vale a pena olhar, pelo menos nos próximos tempos. O extenso vale foi completamente devorado pelas chamas no Verão passado e tem um aspecto desolador.
A caminho da aldeia, talvez seja interessante lançar um olhar à igreja de S. João Baptista, extra muros. S. João Baptista é precisamente o padroeiro de Marzagão.

Marzagão tem uma bonita entrada, ao longo da estrada M632-1. Depois do Bairro da Carreira Branca chega-se ao Largo da Igreja, ou Fundo do Povo, como é conhecido. A igreja Matriz, elegante, bonita, domina o largo e a nossa atenção. Esta igreja é a ponte entre Marzagão e a antiga vila de Ansiães, uma vez que para aqui foi transladada no ano de 1575. Reformulou-se em 1765 e as casas laterais, há muito tempo em obras de recuperação, em 1756. É quase obrigatório dar uma volta no adro da igreja, agora muito mais vistosa depois de cortados dois enormes ciprestes que no passado estiveram à sua frente.
Em volta da igreja há catorze grandes cruzeiros em granito. Os pináculos, no telhado, são elegantes, bonitos, decorados com motivos florais. No frontispício destaca-se uma bela janela e, por baixo dela uma cruz, a da Ordem de Cristo. Marzagão foi da reitoria do padroado real e cabido da comenda de S. João Baptista, da Ordem de Cristo.

Com um pouco de sorte, talvez se possa entrar no interior da igreja. É um monumento digno de veneração e admiração. Todo o tecto está coberto de painéis representando santos, santas e cenas da vida de Cristo (perto de 150 quadros). O altar-mor em talha dourada é muito bonito, tal como os quatro altares laterais. Em vários locais é possível encontrar pedaços da história. Numa lápide pode ler-se: “Esta igreja transladouse aqui da primitiva extra muros da vila de Anciaens no ano de 1575: e reformousse no ano de 1765: sendo reitor o Doutor Antonio de Souza Pinto da M.a Freg.a”.
Um dos dias grandes desta igreja acontece no primeiro Domingo de Maio, aquando das festas em honra de Nossa Senhora do Rosário. Além da missa solene com pregador convidado, realiza-se uma majestosa procissão, com bandeiras, estandartes e os andores de S. João Baptista e Nossa Senhora do Rosário, entre outros.

A paragem seguinte é noutro monumento de relevo da aldeia: a Ponte do Galego, também conhecida como Ponte Romana. Situada fora do povoado, junto à estrada que segue para Linhares, apresenta dois arcos de volta perfeita e um tabuleiro plano. Tudo em granito. Estabelecia a ligação entre a vila de Ansiães e Arnal, com ligações ao Douro. Na melhor das hipóteses, as fundações remontam à Idade Média.

No regresso podem ser apreciados: a antiga escola primária, há muito tempo encerrada; um nicho com S. João Baptista, onde se realiza uma pequena festa com cascata no dia de S. João, e um bonito cruzeiro (que ainda tem restos metálicos da existência do mealheiro). Tal como nas alminhas, nestes cruzeiros recolhiam-se esmolas com que se celebravam missas, para sufrágio das almas do purgatório.

Continua:
À Descoberta de Marzagão (2.ªParte)