No primeiro Domingo de Maio festeja-se Nossa Senhora do Rosário. É uma das festas mais importantes da freguesia, juntamente com a festa ao padroeiro, S. João. O culto a Nª Sª do Rosário é muito antigo, data do início do Séc. XIII, mas o seu alastramento a toda a igreja católica deve ter acontecido no Séc. XVI com o Papa Gregório III. Assim se entende que no Séc. XVII existissem no concelho de Carrazeda de Ansiães 23 confrarias dedicadas a Nossa Senhora do Rosário, entre as quais a de Marzagão. Estas confrarias eram constituídas por grupos de paroquianos e tinham por objectivo dinamizar o culto, mas também praticar a caridade e apoiar a alma dos seus confrades para além da morte. A confraria de Santa Eufémia, da Lavandeira foi, sem dúvida, a maior que existiu no concelho, seguindo-se-lhe a de Nossa Senhora do Rosário, em Marzagão, com 12 mil irmãos espalhados por Trás-os-montes e Beiras. Estas confrarias funcionavam também como bancos emprestando dinheiro a juros. Quando o particular não conseguia pagar a confraria ficava com os seus bens. Desta forma o património das confrarias era constantemente aumentado. Como mostram as gravações nos portais de várias casas, a história do povoado está fortemente ligado à confraria.
Actualmente são poucas as confrarias que ainda se mantêm vivas. Porque se mantém a de Nossa Senhora do Rosário? A importância de Marzagão seguiu em sentido inverso à decadência de Ansiães (castelo). O número de irmãos, os elevados rendimentos e a importância dos mesmos, uma vez que muitos dos que pediam dinheiro emprestado eram de origem fidalga, e, penso que também tenha tido algum peso a importância do culto mariano em Portugal, fizeram com que esta confraria se tenha mantido até hoje.
A realização da festa foi também uma boa oportunidade para recordar o interior da igreja. Existe gravada numa pedra da parede lateral uma mensagem onde consta ao ano de 1575 como o ano da transladação da igreja de S. João Baptista do castelo de Ansiães para Marzagão. Informa também que a igreja foi reformulada no ano de 1765. Dos altares chama a atenção, como seria de esperar, aquele que é ocupado por Nossa Senhora do Rosário. Toda a nave da igreja está coberta de caixões pintados! São Muitos! Também a capela-mor está coberta com o mesmo género de caixões embora aqui, não sei se são mais antigos, as pinturas estão mais deteriorados. Há 99 no corpo do templo e 45 na capela-mor.
Havia quatro andores preparados para saírem na procissão, dois deles eram o de Nossa Senhora do Rosário e o de S. João.
Aproveitei o tempo de espera pelo início da Eucaristia para percorrer algumas ruas da aldeia começando pela rua de S. João Baptista. Tomei um café num espaço muito agradável, que desconhecia. A taberna que existia há bastantes anos atrás, está fechada.
Visitei também a capela de S. João. Quando eu conheci aquele espaço era um palheiro, por isso fiquei bastante satisfeito com o trabalho de recuperação que foi feito. Aqui encontrei alguns objectos de arte sacra e imagens de santos. Também aqui estava exposta uma antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário. Num cartaz podia ler-se que os mantos da Senhora eram colocados sobre as mulheres prestes a dar à luz, na esperança de que com esse acto não haveria problemas no parto.Regressei ao Largo da Igreja, estava prestes a começar a Eucaristia. Celebraram três sacerdotes, com a Banda Musical de S. João da Pesqueira a darem um colorido musical à festa religiosa. O sermão foi feito pelo Sr. Padre Bernardo, que foi pároco em Marzagão há algumas décadas atrás. Como este padre tem um gosto especial pela história, o sermão foi mais uma aula de história do que um apelo à fé. Gostei.
Às dezassete e trinta saiu a procissão que percorreu as principais ruas da aldeia.
Para a noite estava preparado um animado arraial.
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